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"Agora até gosto de ter sofrido o milésimo gol", relembra Andrada

Andrada não caiu na paradinha de Pelé. Esperou o camisa 10 do Santos bater o pênalti e caiu, acertadamente, no canto esquerdo. Chegou a tocar na bola, mas não evitou o milésimo gol do Atleta do Século, em 19 de novembro de 1969.

Na época, o goleiro do Vasco socou o gramado e continuou deitado, enquanto fotógrafos e jornalistas invadiram o campo do Maracanã para reportar e comemorar o feito histórico. “Estudava a maneira que ele batia na bola. Quase defendi, mas não deu. Na hora, queria apenas que voltasse o jogo para a gente buscar o placar”, recordou Andrada, pela milésima vez, em entrevista ao eBand, 40 anos depois.

O gol foi marcado aos 34 minutos do segundo tempo. A festa, para tristeza do goleiro cruz-maltino, encerrou a partida e o Santos ficou com a vitória por 2 a 1. Nada que hoje incomode o goleiro, famoso, justamente, por não fazer uma defesa.

“Já perdi a conta de quantas vezes respondi essa pergunta (sobre o pênalti). No começo, achava ruim falar disso, mas agora não. Com o tempo, a gente acostuma. Agora até gosto de ter sofrido o gol. Não fosse por isso, não estaria falando com você agora. Todo ano, um brasileiro me liga para saber disso.”

Andrada conversou por telefone com o eBand, de Rosário Central, na Argentina, cidade onde nasceu. Hoje com 70 anos é coordenador técnico do time de sua cidade natal, que também o revelou para o futebol, em 1960. “Aqui ninguém lembra direito deste fato. Logo que sofri o gol, dei entrevista para alguns argentinos, mas atualmente ninguém lembra quando foi isso.”

Aos brasileiros, o ex-camisa 1 vascaíno faz questão de recordar que, na mesma partida, impediu o que poderia ser um gol nota 1.000, do Rei do Futebol. Pelé bateu do canto esquerdo da área, o goleiro voou no ângulo e espalmou para escanteio. “Foi uma das defesas mais difíceis da minha vida. Segurar ele não era fácil. Não queria sofrer o milésimo gol e fiz importantes defesas naquele jogo.”

A carreira

Andrada havia chegado no início de 1969 no Vasco, contratado junto ao Rosário. Depois de sofrer o gol mil, ele conta que nada mudou na carreira. “Me dedicava da mesma maneira aos treinos. Só que tinha que responder às perguntas sobre o milésimo gol.\"

Recomposto da frustração de entrar para a história por um gol sofrido, Andrada conquistou o título de campeão carioca no ano seguinte. Seguiu como camisa 1 do Vasco e, em 1974, ajudou a equipe na conquista de seu primeiro título brasileiro. “Foi a principal conquista da minha carreira.”

Dois anos depois, se transferiu para o Vitória, da Bahia, onde jogou uma temporada antes de voltar para o Cólon, da Argentina. Jogou até 1982, quando pendurou as chuteiras.

Pelé melhor que Maradona

Em 22 anos nas quatro linhas, Andrada perdeu as contas de quantos gols sofreu de Pelé. Lembra apenas que nunca conseguiu defender um pênalti do Rei. “Ele sempre cobrou muito bem. Nunca defendi. Também perdi as contas de quantos gols ele marcou em mim.”

A admiração pelo ex-camisa 10 do Santos é tamanha, que o argentino, pestanejou, mas, ao ser questionado qual camisa 10 gostaria de ter em seu time – Pelé ou Maradona -, ele respondeu:

“Não é fácil comparar. Ambos foram muito bons. Mas Pelé tinha algo de diferente. Foi o melhor jogador do mundo. Escolheria ele.”

Monstros do futebol

Outra boa lembrança que Andrada guarda do futebol brasileiro foi a oportunidade de jogar com os principais jogadores do mundo. Na época, Gérson, Rivelino, Pelé, Jairzinho, Tostão e outros craques do futebol atuavam no país. “Antigamente os jogadores não iam para a Europa. Tive a oportunidade de jogar com os grandes monstros do mundo da bola. Foi um prazer e muita sorte poder ter atuado com nomes como Pelé.”

Fonte: Band Esportes