Adversários na decisão, Alberto Valentim e Abel Braga já trabalharam juntos
Foram centenas e centenas de mensagens... amigos, jogadores, parentes, jornalistas, colegas de profissão e até desconhecidos procuraram Abel Braga nos dias que sucederam uma arritmia cardíaca durante um Fla-Flu, há pouco mais de duas semanas. Um recado, no entanto, o surpreendeu. Através de um membro da comissão técnica, Alberto Valentim mandou palavras de conforto e parabenizou Abelão instantes após perder o título da Taça Rio para o Flamengo.
"Vetado" da decisão da Taça Rio pelos médicos, em casa Abelão foi pego de surpresa. A iniciativa do adversário recebeu menção honrosa na primeira coletiva de imprensa após seu retorno aos trabalhos:
– Quero deixar aqui um agradecimento pelas palavras, após o jogo, o que para mim passam a ter um significado muito maior, que o Alberto mandou que um membro da minha comissão técnica me passasse. Um abraço, garoto. Muita sorte. Você foi meu atleta e sempre foi um cara muito do bem de um caráter muito elevado e que continue fazendo esse trabalho muito bonito no Vasco – agradeceu Abel, que ao GloboEsporte.com reforçou a grandeza do gesto por ter partido após o revés nos pênaltis.
- Foi legal essa mensagem que ele me mandou, inclusive, por ter sido depois de uma derrota. Isso tem um peso, ter o discernimento de não misturar as coisas. Fiquei extremamente feliz e torço por ele, que é um cara do bem.
Abel e Valentim não são amigos do dia a dia, daqueles que frequentam a casa do outro, mas se conhecem há mais de 20 anos. Trabalharam juntos no Athletico-PR entre 1997 e 1998. Na época, o treinador do Vasco era um jovem talentoso lateral-direito, que ganhava projeção no cenário nacional antes de fazer longa carreira na Itália. Mas jamais esqueceu os ensinamentos de Abelão, a quem se refere como umas das suas principais referências no futebol.
– Ele é um cara muito atento à parte tática, mas, acima de tudo, sabe deixar um ambiente bom de trabalho. E disso eu não abro mão. O Abel é um cara do bem, detalhista e que todo mundo gosta – elogiou Valentim, em entrevista ao jornal "O Dia", em maio do ano passado, quando estava à frente do Botafogo.
Abelão retribuiu o carinho e foi só elogios ao ex-lateral-direito:
- Cheguei ao Athletico em 1997 e ele já era diferenciado a nível de comportamento. Já víamos que era um cara diferente. Em questões técnicas e táticas, absorvia tudo muito rapidamente. Tive um ano e meio seguido no Athletico e nunca chegou atrasado, nunca faltou um treino, nunca teve um problema com um colega, e nós mantemos isso aí até hoje quando nos encontramos.
Curiosamente, Abel foi sondado pelo Vasco antes da chegada de Valentim e novamente no fim do ano passado, quando o treinador já estava apalavrado com o Flamengo. Neste domingo, duas semanas após a final da Taça Rio, eles começam a decidir o Campeonato Carioca, às 16h (de Brasília), no Estádio Nilton Santos. No domingo que vem, o jogo decisivo será no Maracanã.
Perfis distintos e questionamentos
Foi no Botafogo, aliás, que Valentim conquistou seu principal título da ainda curta carreira como treinador. Em 2018, faturou o Campeonato Carioca e vai defender o troféu contra o Flamengo. Campeão brasileiro, continental e mundial, Abel, por sua vez, coleciona oito estaduais, três só no Rio de Janeiro. Números que expõem as diferenças nas trajetórias de um técnico consagrado e outro iniciante, porém, promissor.
Por motivos variados, nenhum dos dois vive exatamente uma lua de mel com suas respectivas torcidas. São prestigiados internamente nos clubes, mas, apesar de finalistas, são questionados por cruz-maltinos e rubro-negros por algumas escolhas nas escalações. Nada que eles não já não estejam acostumados na vida de treinador. E nada que não possa mudar com uma final pela frente. Para o bem ou para o mal.
Carioca, 66 anos, Abelão faz o estilo paizão, curte um bom vinho, toca piano e está um pouco acima do peso, de acordo com os médicos que o atenderam após a arritmia. O mineiro Valentim, 44 anos, tem perfil mais estrategista e pinta de modelo, gosta de roupas estilosas, curte sertanejo e é um assíduo frequentador de academias. Em comum entre dois técnicos tão diferentes, o destino cruzado, a paixão pelo futebol e a fome de títulos. No dia 21, um deles terá um novo troféu na galeria.
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