Acompanhe mais um resumo da Reunião do Conselho Deliberativo

Escrevo no sentido de esclarecer os VU sobre o que aconteceu, fazendo um breve resumo da reunião. Tentarei ser o mais didático possível, no sentido de fazer com que os torcedores que não estão familiarizados com a política vascaína possam entender melhor seus meandros.

Primeiro: Como é a atual composição política do Conselho? Bom, grosso modo a oposição tem duas representações: Existe uma parcela ligada ao Eurico, formada por um bom número de Beneméritos e Grandes Beneméritos que controlam um dos poderes do Clube, o Conselho de Beneméritos, que tem função apenas de aconselhamento e cujo presidente é o próprio Eurico. Existe também a oposição, digamos, “oficial”, formada pelos 30 conselheiros da chapa que ficou em 2º na última eleição, que se intitulam membros da chamada “Cruzada Vascaína”. A situação é formada por 120 conselheiros eleitos pela Chapa Vencedora das últimas eleições, aos quais se juntam alguns Beneméritos e Grandes Beneméritos que são Calçada ou simplesmente anti-Eurico. A “situação” no entanto está cada vez mais dividida pois diversos conselheiros que a integram estão há muito tempo inconformados com os rumos que a administração Dinamite vem tomando.

Segundo: Qual era a pauta da reunião de ontem? Ponto um: aprovação da ata da reunião anterior. Ponto dois: Carta da Diretoria pedindo um prazo de 120 dias para retificar o Balanço. Ponto três: Discussão do Balanço, caso o CD não concedesse o prazo pedido pela Diretoria. Ponto quatro: Programa de sócios.

O ponto quatro foi retirado de pauta a pedido da diretoria que prometeu uma reunião exclusiva do CD só para este tema.

Vencido o ponto um (aprovação da ata da reunião anterior) foi dado início ao debate sobre o pedido da diretoria para a prorrogação do prazo para a aprovação do orçamento.

O ambiente estava tenso. Roberto Monteiro (vice-presidente do Conselho Deliberativo), eu, Sérgio Macarrão, Antônio Brás, Alex, Luiz, Mauro, entre outros conselheiros que sempre votaram com a situação, decidimos desta vez votar contra o pedido da diretoria de adiamento, e caso vitoriosos, iríamos votar contra a aprovação do Balanço.

Esclareço que, ao contrário do que se divulgou, nem o estatuto do Vasco nem a lei Pelé prevêem quaisquer sanções à diretoria ou ao Clube cujo Conselho Deliberativo reprove as contas. Só existe sanção para as “sociedades de administração do desporto”, ou seja, CBF, Federações, etc. As “sociedades de prática esportiva” não são afetadas e a não aprovação do Balanço tem efeito meramente político, o que era justamente o nosso objetivo, mandar um recado político à diretoria de não estávamos satisfeitos com a forma pouco transparente com que o Vasco estava sendo conduzido.

Dando início aos debates falou o presidente Roberto Dinamite, que em poucas palavras pediu o adiamento da discussão sobre o orçamento, não para 120 dias, mas para 60 dias.

Confesso que achei estranho um discurso tão curto do presidente para um tema tão delicado. Parecia até que ele já tinha certeza de uma vitória fácil. Mas, logo depois de Roberto, falou Eurico Miranda e tudo ficou esclarecido. Eurico, para imensa surpresa de grande parte do plenário, recomenda a sua bancada o voto A FAVOR do pedido de adiamento. Isso já carimbava a vitória do Dinamite na reunião de ontem. Vitória, aliás, muito bem articulada subterraneamente com Eurico, a troco não se sabe de que.

Mas o que era ruim, pode ficar pior. O mínimo que se espera em uma democracia é que quem diverge possa deixar registrada sua divergência. Depois do Eurico, falou Nelson Rocha (contra o adiamento, sua fala gerou tumulto interrompendo a reunião porque ele atacou Eurico o que deixou os euriquistas inconformados), falou Léo Gonçalves (contra o adiamento), falou Nelson de Almeida (a favor do adiamento) e falou Hélio Donin (a favor do adiamento) e outra surpresa aconteceu. Embora ainda houvesse conselheiros inscritos para falar (entre eles o próprio vice-presidente do CD, Roberto Monteiro), Abílio encerrou os debates invocando um artigo do regimento interno do Conselho que diz que a discussão pode ser encerrada se o plenário estiver satisfeito como o debate depois de quatro falações. Embora a aplicação deste artigo seja legal, a forma abrupta e sem nenhuma habilidade com que ele foi aplicado pelo Abílio revelou um total descompromisso com a democracia tão duramente reconquistada no Vasco. Para completar, totalmente atabalhoado, Abílio se levanta e diz: “Quem concorda com o adiamento por favor se manifeste”, só que a reunião estava tão tumultuada que mesmo a maioria que apoiava o adiamento ficou sentada (ou seja, a rigor derrotando o adiamento) Abílio então, ao ver que ninguém tinha se levantado, muda e diz: “quem aprova o adiamento permaneça como está votação encerrada aprovado adiamento sessão encerrada”. Assim mesmo, sem intervalo na fala e sem dar a chance inclusive de manifestação a quem queria registrar sua discordância. Uma vergonha, que deixa o presidente do CD totalmente desmoralizado para conduzir reuniões daqui pra frente e mais, sem qualquer necessidade pois com o apoio do Eurico o Dinamite tinha maioria folgada para aprovar o adiamento.

No fim, depois de muito tumulto, via-se entre os membros da situação um visível constrangimento. Vários deles tinham me abordado antes do início questionando-me: “você vai votar com o Eurico?, pois votar contra o Dinamite hoje é votar com Eurico”, retrucávamos, eu e meus companheiros, que iríamos votar não com o Eurico mas com nossas consciências.

Depois de tudo o que ocorreu ficou claro para várias destas pessoas que elas foram usadas pelo Dinamite que, por debaixo dos panos costurou um acordo com o Eurico e não teve a decência de sequer avisar sua base que, vendida, parece que vai hoje ter muito sobre o que refletir.

Espero ter contribuído para esclarecer o que aconteceu ontem.

Abraço a todos.

Por Wevergton Brito Lima