A história de Antony Menezes, técnico do futebol feminino do Vasco
Quem está acostumado com a constante troca de técnicos do futebol brasileiro pode se espantar ao descobrir o time feminino do Vasco. Com reestreia no Brasileirão Feminino A-2 nesta segunda, contra o Atlético-MG, a equipe tem a mesma figura à beira do gramado há quase uma década: é o técnico Antony Menezes, o Tony, no cargo desde 2012.
Mesmo com os anos de experiência no clube, Tony se viu diante de um desafio inédito em 2020. Com o distanciamento social imposto pela pandemia, surgiram obstáculos à preparação tática e física do Vasco. Em março, o comandante planejou uma rotina de treinos online com Jaqueane Correa, então preparadora física do Vasco e atual técnica do América-MG.
- Ela (Jaqueane) foi tentando ao máximo fazer com que nossa equipe não perdesse tanto na parte física. Acho que foi um trabalho legal. Na volta, começamos bem, mas agora começamos a ter alguns casos de lesão. Estamos num período de alerta. À distância, foi muito novo, para mim, fazer a parte tática pela internet. Foi inusitado, mas a gente conseguiu se adaptar da melhor maneira possível - revelou ao ge.
A readaptação aos treinos presenciais gerou algumas baixas no elenco do Vasco. A volante Stephanie teve uma lesão no início de outubro e passa por tratamento intensivo. Thaís, Lorrany e Índia seguem em recuperação e ainda não estão confirmadas para o duelo contra o Galo.
Kaylane Melo, que era uma das principais peças do elenco, foi para o rival Flamengo. O Vasco, por sua vez, anunciou Anny, Isabella Rangel e Marzia Coutinho como reforços. Antony Menezes conta com a força da base para suprir as necessidades do elenco: oito atletas do atual time titular são crias da casa.
- A Kaylane foi formada aqui com a gente, está numa fase muito boa, (com convocações às) seleções brasileiras sub-17 e sub-20. Foi um processo doloroso para nós, perder uma atleta que vinha se destacando, mas temos uma base boa e conseguimos suprir. Outras meninas subiram, também com passagem pela seleção, e estão dando conta do recado - destacou Tony.
Ex-atleta de futsal, Antony não planejava ser técnico
Além do time profissional, Antony já comandou as equipes femininas das categorias sub-15 e sub-17 do clube. Contudo, antes de virar técnico, Tony teve uma extensa carreira como jogador de futsal: revelado pelo rival Flamengo, o atual comandante jogou por diversos clubes no Brasil, além de experiências na Rússia e no Azerbaijão.
- Comecei no Flamengo, fiz a base e joguei profissionalmente lá. Saí e fui rodar: defendi o Londrina, Pato Branco, Marechal Rondon, Toledo. Joguei no Spartak Moscou (Rússia), Azerbaijão, joguei a Champions de futsal. De volta ao Brasil, joguei no Guarapuava (PR). Tive alguns problemas e resolvi parar. Como queria seguir no futebol, fiz faculdade e me formei em Educação Física - declarou.
Com o diploma em Educação Física, Antony entrou no Vasco como estagiário para ganhar experiência. À época, ele não tinha pretensões de ser treinador. Hoje, se orgulha de dizer que o futebol feminino o escolheu.
- Os professores me pediam opinião, e eu dava, aí eles viram que eu tinha condição. Me fizeram o convite pela primeira vez, e eu neguei. Achei melhor me preparar um pouquinho mais. As coisas foram acontecendo, acho que o futebol feminino me escolheu. Fui conversando com amigos que eram treinadores, que tinham feito essa transição de ex-atleta para técnico. Quando aceitei, não saí mais - comemora.
Grupo forte no Brasileirão Feminino A-2
O Vasco está no Grupo E do Feminino A-2, junto com Goiás, Atlético-MG, Botafogo, Real Brasília e Vila Nova-ES. A força da chave pode ser explicada, em parte, pela regionalização dos grupos do torneio - medida que o próprio Antony criticou em março, antes do início da competição.
Ao somar o peso dos rivais às dificuldades da pandemia, Antony mantém os pés no chão. Primeiro, o Vasco almeja garantir o acesso à elite do Brasileirão Feminino, para só depois pensar no título da Série A-2.
- O grupo é considerado por todos como o mais difícil. Até agora, todas as equipes têm um ponto. Tem que ter pé no chão, trabalhar agora e pensar primeiro na classificação, jogo após jogo. Óbvio que chegar entre os quatro é o grande objetivo, a princípio. Conseguindo, aí a gente pensa no título. O acesso hoje é o mais importante - completou.
Outros tópicos da entrevista:
- O que trouxe de mais proveitoso do futsal para o campo
Hoje, nos treinamentos, muitas escolhas se dão num campo reduzido. Isso eu trago do futsal, a maioria dos meus treinos têm essa aplicação. Muita coisa que virou moda o futsal já fazia, então eu só transferi e adaptei ao futebol feminino. Graças a Deus tive muitos bons técnicos, que me passavam muitas informações. Fui colhendo e tentando montar o Tony treinador com essas várias experiências.
- Melhores treinadores com quem trabalhou no futsal
Ricardo Lucena, Paulo Mussalém, Benatti, Maneca… Todos renomados, treinaram grandes equipes no Brasil e lá fora. Tem vários nomes, mas acho que esses são os principais.
- Técnico que mais o inspirou
Quem me inspirou, quando comecei no Vasco, foi o Mauricinho (Maurício Souza), que hoje treina o sub-20 do Flamengo. É um grande amigo, me incentivou a seguir a carreira de técnico e a gente sempre conversou bastante em relação a isso. Foram muitos amigos que passaram, mas no início eu tinha algumas dificuldades. Na época ele não estava nem no Flamengo, estava no Botafogo. A gente conversava bastante, é um cara com quem tive um contato mais direto.
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