30 anos do Bicampeonato brasileiro do Vasco
O Campeonato Brasileiro de 1989 trouxe a coroação de uma das muitas gerações históricas do Vasco. Em uma saga digna de um navegador que não teme mares revoltos, o Cruz-Maltino, que já havia saboreado o bicampeonato estadual em 1987 e 1988, fez uma fuzarca que estava presa na garganta havia muito tempo.
"Já se passavam 15 anos sem conquistas no Brasileiro, e a gente vinha de um ano anterior no qual batalhou muito. Tínhamos sido bicampeões cariocas, chegamos às quartas de final no Brasileiro de 1988. Havia cobrança e sabíamos que tínhamos time para vencer o título", disse, ao "Lance!", Sorato, atacante até hoje não é esquecido por ter feito "de cabeça o gol do bi em pleno Morumbi", na vitória por 1 a 0 sobre o São Paulo, na decisão.
No entanto, o desafio até a caravela chegar ao rumo do título brasileiro foi bem intenso.
"Nosso primeiro semestre foi bem frustrante. A gente não foi bem no Estadual, e deixou escapar o sonho do tricampeonato em um jogo com o Nova Cidade (empate em 2 a 2, em São Januário). Aquilo deixou todo mundo irritado", afirmou o volante Zé do Carmo.
O segundo semestre de 1989 na Colina foi marcado por mudanças. Sérgio Cosme deixou o comando da equipe para a entrada de Nelsinho Rosa (que já se destacara como treinador anteriormente por vencer dois estaduais no Fluminense). Só que a novidade da equipe daria o que falar.
E tendo como "cereja do bolo" um artilheiro que virou casaca, o Cruz-Maltino se preparava para fazer história.
"Não era à toa esse apelido não. Bebeto dispensa comentários, já naquela época tinha sido campeão da Copa América e era convocado o tempo todo. Acácio, Tita, eu, Bismarck, Marco Antônio Boiadeiro tínhamos passagem pela seleção. Sorato tinha sido chamado na seleção Sub-20, Quiñonez na seleção do Equador... Só Marco Aurélio não tinha sido convocado", declarou Zé do Carmo.
Bebeto: Consagração após 'fogo cruzado' de uma rivalidade
A oficialização de Bebeto como reforço do Vasco acirrou os ânimos de uma rivalidade. Após 28 dias de uma negociação marcada por "acordos, impasses e blefes" (segundo destacou a revista "Placar" na época), o mandatário Antônio Soares Calçada e o vice de futebol Eurico Miranda aproveitaram o impasse da renovação do atacante com o Flamengo para tirá-lo da Gávea.
O craque. 30 anos depois, não esconde que se emociona por ter feito seu talento com a camisa cruz-maltina falar mais alto do que as polêmicas entre rivais.
"Era mais um desafio na minha vida. Nunca quis sair do Flamengo, mas quando cheguei ao Vasco, fui recebido com tanto amor e tanto carinho pela torcida... Poder conquistar o Brasileiro marcou muito minha carreira, foi emocionante. O time da gente era muito bom", destacou.
Porém, a escolha do jogador quase lhe rendeu dores de cabeça.
"Foi uma troca muito conturbada não só para ele, como também para a vida da família dele. Eu me lembro que o Bebeto estava sempre muito preocupado. Ele recebia ameaças de que iriam fazer besteiras com a família dele", decarou Bismarck que, em seguida, contou: "Procuramos acolhê-lo da melhor forma possível. Bebeto precisava da nossa ajuda", complementou o meia-atacante.
Bebeto estreou só na terceira rodada com a camisa 9 cruz-maltina. E não demorou a mostrar serviço: abriu o placar na virada por 2 a 1 sobre o Santos. Seria o primeiro dos seis gols que anotou em 12 jogos na conquista do Brasileirão.
'Mescla que sempre funcionou no Vasco'
A lista de reforços do Cruz-Maltino não se restringiu a Bebeto. O clube acertou o retorno de Tita e anunciou o lateral-direito Luiz Carlos Winck, o volante Andrade, o meia Marco Antônio Boiadeiro e o ponta Tato. Em meio às novidades, a equipe contou com a voz da experiência.
"Acho que o fato de Andrade, eu, Bebeto e Tita termos vencido o Brasileiro contribuiu para o elenco. Éramos um pouco mais calejados, passávamos um pouco da nossa experiência para uma equipe repleta de qualidade", disse Tato, que já havia sido campeão brasileiro pelo Fluminense em 1984 e foi titular em boa parte da campanha cruz-maltina.
O Cruz-Maltino tinha em seu elenco o goleiro Acácio, o lateral Mazinho e, na linha de frente, ainda contava com crias da base, como William, Bismarck e Sorato, jovens com muita vivência. Só que um setor ainda trazia preocupação.
"Célio (Silva) e o Marco Aurélio, que tinha muito bom posicionamento, formavam a dupla de zaga com frequência. Em algumas vezes, entrava o Leonardo. Mas a gente dava algumas bobeiras, oscilava um pouco", afirmou Zé do Carmo.
A diretoria buscou no exterior a solução: titular da seleção do Equador, Quiñonez vestiu a camisa cruz-maltina e ficou eternizado tanto por seu estilo de jogo quanto por "balançar a cabeleira".
"Quando ele chegou no segundo turno (em outubro), o time se encaixou. Tanto que formou muito bem a zaga com Marco Aurélio, que também foi fundamental. A equipe foi embalando do meio para a fase final. A gente tinha uma mescla de jogadores experientes que chegaram ao clube com jovens de qualidade vindos da base. E isto sempre funcionou no Vasco", afirmou Bismarck.
Fonte: UOL EsportesMais lidas
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