Futebol

Rumo ao Vasco, reforço foi tirado do avião para assinar com o Coxa em 1970

Naquele dia 12 de abril de 1970, o avião estava pronto para decolar no aeroporto Afonso Pena com destino ao Rio de Janeiro levando a bordo, entre outras pessoas, o ex-patrono do Metropol de Criciúma, Dite Freitas e o meia-direita Leocádio Cônsul, que não quis ficar no Grêmio de Porto Alegre e estava apalavrado com o Vasco da Gama. O Metropol que foi um dos mais fortes esquadrões de futebol do sul do Brasil nos anos 60 fechou as portas alguns meses antes e o craque do time estava sendo negociado. Foi então que, para surpresa dos dois, um senhor distinto entrou no avião, pediu para a tripulação aguardar, que ele precisava conversar com dois passageiros. O homem se apresentou como Eli Thomaz de Aquino, vice-presidente do Coritiba Foot Ball Club. “Queremos fazer uma proposta para o Leocádio. Queremos que ele fique em Curitiba”, disse ele.

“Foi deste jeito que eu vim para o Coritiba”, conta Leocádio. Na realidade, o ex-diretor do Metropol achou a abordagem estranha, mas Eli Aquino insistiu: “Peço que fiquem dois dias em Curitiba. Se não der certo, podem seguir para o Rio”, disse. Freitas olhou para o jogador e falou: “Você que sabe. Para mim tudo bem. Tanto faz o Vasco quanto o Coritiba. Você é quem decide”, conta Leocádio. “Na hora eu pensei na minha família, que estava voltando para Mafra, que fica mais perto de Curitiba. Na realidade, enquanto eu estava indo para o Rio, eu mandei a família de carro para lá”, conta ele. “Aquilo não atrasou o avião mais que meia hora. Nós descemos, fomos para o hotel, o Evangelino perguntou o que eu queria. Eu disse e tudo foi se encaminhando, o dinheiro, salário, apartamento e até a questão da mudança foi fácil, porque o Evangelino tinha um caminhão de mudança e tudo se acertou”, disse ele.

Leocádio ficou em Curitiba, o Vasco da Gama ficou a ver navios e o meia-direita foi para Mafra avisar a família qual seria a nova cidade em que ia morar. Quando ele chegou a Mafra, a família ainda não tinha chegado de Criciúma, de onde saiu, achando que ele estava indo para o Rio de Janeiro. “Fechei um contrato por dois anos, me compraram por um bom dinheiro na época”, disse ele. “O ex-presidente do Metropol pegou o cheque, chegou para mim e disse que estava tudo certo, que ele gostaria que eu fosse para o Grêmio de Porto Alegre porque ele era gremista, mas se eu quis ir o Coritiba, por ele estava tudo bem. Ele me agradeceu por tudo que eu fiz pelo Metropol e foi embora”, acrescentou.

O meia-direita estava ingressando em seu terceiro alviverde, depois de passar por outros dois: o Pery Ferroviário, de Mafra, onde começou a carreira e o Metropol de Criciúma, time que conseguiu a façanha de ser campeão catarinense no ano em que fechou as portas (a última partida foi contra o Palmeiras de Blumenau, derrota fora de casa de 2 a 0, no dia 14 de dezembro de 1969). Por pouco Leocádio integrou mais um alviverde, a Sociedade Esportiva Palmeiras. Mas esta é outra história.

Filpo

“Quando eu cheguei ao Coritiba, o técnico era o Filpo Nuñez. Ele veio com uma conversa de que foi ele quem indicou a minha contratação. Ele dizia: eu indiquei e você vai ser meu titular. Tudo aquilo era para pegar uma grana minha, como fosse uma comissão pela minha contratação. Ele tinha uma amante loira que era muito bonita. Ela chegava para os caras e dizia que o Filpo ia jogar baralho e que estaria sozinha no apartamento, para a gente dar um pulo lá para tomar um uísque. É claro que rolava um picote nestes encontros”.

No final de 1959, o Clube Atlético Ferroviário foi a Mafra fazer um jogo amistoso e aproveitou para ficar de olho num promissor atacante do Pery Ferroviário, o alviverde local conhecido pela alcunha de “O Leão da Fronteira”. O garoto tinha 16 anos, era meia-direita e seu nome era Leocádio Cônsul. O Boca Negra ganhou o jogo por 3x2, Leocádio marcou um dos gols do time da casa. Ao final da partida, quando os diretores do Ferroviário foram consultar o técnico Félix Magno sobre o atacante, o uruguaio disse: “Não vale a pena. Ele é muito mirradinho”.

Aos setenta anos, Leocádio se lembra da primeira decepção no futebol. “Eu ia de graça. Eu queria ir para o Ferroviário, meu pai queria que eu fosse, todo mundo queria e esta negativa me frustrou bastante”, disse ele. No entanto, Lauro Paes, um diretor de outro Ferroviário - o Operário Ferroviário de Ponta Grossa - tinha ido para Mafra na mesma ocasião. Quando soube que o Boca Negra não se interessou pela jovem promessa catarinense, ele entrou em contato com Pedro Consul, pai do jogador, e disse: “Eu quero que ele vá para o Operário. Deixe-o ficar duas semanas em minha casa para, pelo menos, para fazer um teste. Eu me responsabilizo”, conta Leocádio.

O bom desempenho de Leocádio em Ponta Grossa despertou a cobiça do Londrina. O presidente Carlos Antonio Franchello foi a Mafra falar com Pedro Consul para comprar o passe de Leocádio. “Ele pagou 1 milhão de cruzeiros para o meu pai em dois cheques. 600 mil à vista e 400 mil para ser descontado em mês”, disse ele. Era tanto dinheiro que “quando meu pai, que era motorista, apareceu no banco com aquele cheque, o gerente quis saber onde ele arranjou aquilo”. Leocádio desembarcou em Londrina em 1963. O time foi campeão paranaense no ano anterior e a base era praticamente a mesma. O nome certo era Leocádio, que lá ficou quatro anos, marcou muitos gols e é o sétimo maior artilheiro da história do time londrinense.

O meia-direita ficou em Londrina até 1967 quando despertou o interesse do Palmeiras. Numa negociação que acabou não dando certo, ele foi parar na Ferroviária-SP. E a história de Leocádio com o Paraná ainda teria outros capítulos para serem escritos no Apucarana, no Coritiba e no Londrina. Mas não no Boca Negra, que bobeou ao confiar na avaliação precipitada de Félix Magno.

Farra

Aquele dinheirão da ida para o Londrina deixou o motorista Pedro Consul eufórico. “Ele comprou um carro novo e torrou o resto da grana na zona do meretrício”, conta Leocádio, sem mágoa do velho pai.

Fonte: Paraná Online