Política

Eurico fala sobre Edmundo, que não o cumprimentou em São Januário

Integrantes da chapa "Sempre Vasco" se reúnem nesta quinta-feira para discutir as próximas medidas na ressaca pós-eleitoral no clube. O segundo lugar, com quase 1.600 votos, garante 30 cadeiras no Conselho Deliberativo para o próximo triênio. O grupo avalia ação judicial para discutir a eleição da chapa de Eurico nos tribunais. Para o próximo pleito, a "Sempre Vasco" tem o desafio de manter a unidade que se formou na última hora para esse pleito e seguir como oposição no clube - papel exercido pela "Cruzada Vascaína" de 2011 a 2014. E o nome de Edmundo desponta para liderar esse ciclo até as próximas eleições do clube.

Horas depois das eleições confirmarem a vitória de Eurico Miranda nas urnas, Edmundo prometeu uma oposição "firme, direta e presente" com os 30 conselheiros no programa "O dono da bola", do qual é participante fixo na TV Bandeirantes. Na votação, o Animal passou direto e não cumprimentou Eurico, que estava próximo da urna. O dirigente alfinetou o ex-atleta e definiu a participação de seu grupo nas eleições do clube com o interesse de fazer negócios no clube.

Após a garantia de vitória na eleição, partidários de Eurico cantavam o samba "Vou festejar", de Beth Carvalho, em referência a Edmundo no trecho: "Você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão". Na chapa de Eurico, a todo momento era lembrado o esforço do então vice de futebol em casos como o da prisão do ex-jogador pelo acidente automobilístico que matou três pessoas em 1995 - na época Edmundo era jogador do Flamengo. 

- O dinheiro muda as pessoas e a cabeça das pessoas. Eles não têm interesse no Vasco, têm interesse nos negócios que podem fazer no Vasco. Não tenho nenhuma decepção (de Edmundo não tê-lo cumprimentado), muito pelo contrário. Conheço isso, já tenho tanto tempo nisso que não me decepciono mais - disse o futuro presidente do Vasco em entrevista ao GloboEsporte.com, ainda durante a votação no ginásio de São Januário.

Conciliação

Nessa quarta, Eurico ensaiou um discurso de conciliação ao falar que serão bem-vindos aqueles que quiserem contribuir com a sua administração e se doar ao Vasco. Candidato à presidência da Assembleia Geral pela chapa de Julio, Pedro Valente, candidato do Casaca! na eleição de 2011, pediu paz na política do clube.

- Tendo em vista este complicado cenário, fazemos uma conclamação para que haja um profundo desarmamento de espíritos que leve à imprescindível pacificação, que é tudo que o nosso Vasco mais precisa neste momento.

A disposição não parece ser exatamente essa em outros integrantes do grupo de Julio. Como ficou claro nas palavras de Edmundo. Na TV, o ex-jogador atribuiu a vitória de Eurico à adesão em massa de sócios no mês de abril do ano passado.

- Eles só ganharam porque lá em abril do ano passado eles começaram a pagar mensalidades de alguns eleitores para que votassem no Eurico. Agora cabe ao Ministério Público investigar. A partir do mês que vem essas pessoas não vão mais ser sócias - disse Edmundo no programa.
Ora elogiando, ora criticando Eurico - Edmundo disse o "respeita e admira", mas, em seguida, o classificou como "o mal" na gestão do clube -, o ex-jogador disse que ainda vai disputar eleições no clube de São Januário.

- O bem tem que vencer o mal, mais cedo ou mais tarde. O mal vai estar como presidente do Vasco nos próximos três anos. Eu não podia nessa, mas na próxima eleição serei eu o candidato que vou participar diretamente da eleição do Vasco, como candidato. Não concordo com a maneira como ele (Eurico) se elegeu presidente novamente - afirmou o ex-jogador.

Apesar da vontade de Edmundo, em 2017 ele ainda será inelegível. Dinamite concedeu título de sócio proprietário benfeitor remido do Vasco em abril de 2013. Mas um associado deve ter cinco anos de vida ininterrupta no quadro social do clube para se candidatar.

Reunião da chapa

A disposição de Edmundo de seguir na vida política do Vasco animou o grupo da "Sempre Vasco". Nome surpresa dessa eleição, depois de recusas e fracassos em negociações com Jorge Salgado, Olavo Monteiro de Carvalho e Fernando Horta, que se aliou a Eurico, Julio Brant disse que seria candidato de novo em 2017, caso o grupo concorde com a ideia, mas adiantou que abre mão da disputa por Edmundo.

- Vejo com alegria indescritível essa vontade do Edmundo ser candidato. Isso mostra que conseguimos colocá-lo de corpo e alma nesse projeto. Ele sentiu o sangue na boca que sentimos por tudo que aconteceu na eleição. Em 2017, se puder, vou vir presidente. Mas eu nunca seria concorrente do Edmundo. Jamais. Se ele pudesse se candidatar, as nossas chances duplicariam - afirmou Julio Brant.

Na reunião da chapa "Sempre Vasco", os membros da chapa vão discutir qual estratégia adotar para recorrer ao judiciário. Eles pretendem pegar a relação de votantes, discriminar a data de admissão de associados e relacionar com a diferença de mais de mil votos entre Eurico e Julio. Nas contas da chapa, se o candidato da "Volta Vasco! Volta Eurico!" não tivesse a vantagem dos sócios admitidos no fim de abril de 2013, que antes das urnas foi motivo de polêmica e ações - depois rejeitadas na Justiça -, eles teriam vencido a eleição 

Com o início da movimentação para a próxima eleição, Julio Brant, eleito um dos 30 conselheiros eleitos para o triênio 2015 a 2017, vê na manutenção da unidade do atual grupo político um desafio para a jornada com Eurico Miranda à frente do Vasco. Na "Sempre Vasco", alguns integrantes pensam numa reorganização para seguir como oposição no clube. A sensação inicial é de que dificilmente a base de apoio, que contou com a junção das chapas de Nelson Rocha, Tadeu Correia e Eduardo Nery, permaneça para o próximo triênio.

- Temos esse desafio (da união). É natural que a Cruzada permaneça conosco. Os que se juntaram nos últimos momentos são bem-vindos, claro, porque não foi por acordo político, foi por visão estratégica, programática. E a visão estratégica continua. Se eles quiserem continuar, seria mais bonito ainda, mas claro que cada um tem projeto pessoal, político, intenções - disse Julio.

Para João Amorim, membro pela "Cruzada" no Conselho Fiscal do atual triênio e que seria vice-presidente de finanças em uma eventual gestão de Julio Brant, o resultado não desanima a pretensão de seu grupo para seguir trabalhando na vida política do Vasco.

- O caminho agora é colocar o clube no seu lugar. Vamos seguir trabalhando, como sempre fizemos, desde 2008, por um Vasco melhor. Vida que segue - disse Amorim, que comentou o insucesso na tentativa de união com Roberto Monteiro. - Pensamos nessa unificação das chapas. Claro que havia muitas divergências de caminhos, desencontros e tudo mais, sabíamos que não era simples de ser feito, não achamos o caminho. Paciência. Não tem jeito. Vamos seguir trabalhando pelo melhor do nosso clube.

Monteiro: "Volto para a arquibancada"

Terceiro colocado nas eleições, Roberto Monteiro, da chapa "Identidade Vasco", preferiu não adiantar que rumo seu grupo político pode tomar dentro do clube. Na saída do pleito, ele cumprimentou Eurico Miranda e desejou sucesso no próximo triênio.

- Durante o dia (de votação) a força do Eurico era incontestável. Por isso, talvez, houve muitas manobras judiciais no sentido de adiar a eleição. Mas acho que a vontade do sócio prevaleceu. Desejo a ele toda sorte do mundo, que consiga resgatar o Vasco, como ele sempre diz. Sobre o futuro, não penso nisso agora. Volto para a arquibancada.

Fonte: ge