Clima quente! Veja os bastidores da reunião do Conselho Deliberativo

Hostilidades, "boca de urna", pressão, ameaças, dedos no rosto, cervejas e charutos. Foi neste ambiente, cercado de muita tensão, insegurança e quase agressão a Roberto Dinamite e outros dirigentes, que os conselheiros do Vasco decidiram, na noite desta quarta-feira, pela não continuidade do mandatário no cargo máximo do clube, o que foi considerado uma vitória para o candidato Eurico Miranda e seus correligionários.

Marcada para às 20h30, a votação do Conselho Deliberativo ganhou ares de guerra política logo cedo. Ao redor da sede náutica do Cruzmaltino, na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio, cerca de 100 simpatizantes de Eurico, a maioria deles de organizadas, se faziam presentes e não escondiam o objetivo claro de intimidar os membros que chegavam para votar.

Com transporte a disposição, um cooler de cerveja, que os deixava a cada hora mais exaltados, e munidos de faixas e cartazes contra Dinamite, eles abordavam qualquer pessoa que entrava no clube, muitos deles beneméritos com mais de 80 anos, e questionavam em tom de voz alto:

"Você vai votar no que? É para tirar o Roberto Dinamite hoje! Ouviu bem?", diziam os mais exaltados, deixando os senhores claramente espantados.

A imprensa também era ameaçada:

"Não é para tirar foto não, hein! Vamos pegar gente da imprensa hoje!".

Gritos de ordem contra Roberto Dinamite e Olavo Monteiro de Carvalho (presidente da Assembleia Geral que renunciou ao cargo) eram proferidos a todo o momento.

Enquanto isso, duas viaturas e cerca de dez policiais militares que faziam a segurança do local, agiam passivamente e só observavam, fazendo com que os próprios populares controlassem os ânimos uns dos outros.

Filhos de Eurico Miranda atuantes dentro e fora da sede

Álvaro e Euriquinho, filhos de Eurico Miranda, agiam a todo o momento e controlavam o grupo. Euriquinho, de dentro da sede, passava as informações em tempo real da votação por mensagem de texto e transmitia ordens, a maioria delas para que ninguém fosse agredido. Álvaro, por sua vez, era o porta-voz e repassava o comunicado para os correligionários, que o obedeciam. Muitos dos que estavam no bloco das organizadas não demonstrava grande conhecimento do que se passava em relação ao pleito que estava ocorrendo e faziam perguntas básicas, mas seguiam as orientações.

Dinamite e opositores de Eurico quase são agredidos

O clima esquentou mesmo após a decisão pela não prorrogação do mandato de Dinamite. Mesmo com o resultado a favor, os simpatizantes de Eurico não aliviaram quem eles consideravam seus principais opositores na saída da votação. O primeiro a sofrer grande pressão foi Nelson Rocha, candidato da chapa "Vira Vasco" e um dos militantes mais atuantes contra o que considera o "mensalão vascaíno", onde levanta a suspeita de que milhares de pessoas se associaram ao clube, em março e abril do ano passado, sendo financiadas por pleiteantes à presidência.

Quando deixou a sede, sem a escolta da PM, foi cercado e duramente insultado. Um guarda-chuva chegou a ser tacado em sua direção, mas não o atingiu. Alguns tentavam controlar os mais exaltados e lembravam do "código de não agressão", fazendo uma espécie de proteção a Rocha, que foi seguido até entrar em seu veículo.

Em seguida, foi a vez de Roberto Dinamite, que tinha um carro a sua espera logo na porta. O curto trajeto foi marcado por xingamentos e ironias. A segurança pessoal do dirigente, porém, entrou em ação e conseguiu afastar os manifestantes.

Leonardo Gonçalves, líder do grupo político "Cruzada Vascaína" que apoia a chapa "Sempre Vasco", de Júlio Brant, não teve a mesma sorte e por pouco não foi linchado. Ele foi cercado por homens extremamente nervosos e chegou a ser empurrado enquanto se direcionava ao seu carro.

Filho de Eurico, Álvaro perdeu o controle e, com o dedo em riste, proferiu palavras em tom agressivo. Conselheiros avistaram a confusão e conseguiram segurá-lo.

Frederico Lopes, que apoia o candidato Roberto Monteiro, e o conselheiro Agostinho Taveira, foram outros que passaram por momentos de tensão e ficaram acuados.

Nenhum deles, todavia, foi agredido.

Comemoração com direito a charuto

Quando foi transmitida a informação de que Dinamite havia perdido a prorrogação do mandato, os manifestantes vibraram bastante, entoaram o tradicional cântico de "Casaca" e "o campeão voltou" e acenderam charutos, uma marca registrada de Eurico Miranda.

O próprio, aliás, surgiu aos populares munido com o seu, mas demonstrou preocupação com o caos que ainda se instaurava na porta.

"Sem confusão!", gritou ainda de dentro da sede, sendo prontamente atendido por um correligionário:

"Está tudo sob controle, meu presidente!".

De lá, Eurico seguiu com seu comitê de campanha para um restaurante da Zona Sul comemorar sua primeira vitória na eleição.

Fonte: UOL Esporte